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Melancolia

espaço de discussão e de reflexão sobre a melancolia, tanto como sentimento como enquanto atitude diante da contemporaneidade e da sua cultura.

Sunday, February 20, 2005

Aberto e indefeso

O tempo tem para mim a agudeza cortante e metálica de me escancarar as entranhas, as físicas e as mentais. Como se a entropia, a perda de energia, fosse ao mesmo tempo um tumulto, uma dispensa que só se satisfaz na doação total e absoluta. Sem o outro sou um desarrumado mental a ferver em fogo lento, com ele arrumo-me e desarrumo-me à velocidade dos sentidos e das emoções; excessivas e transbordantes sempre - como um Hércules caído no Etna.
O amor pela humanidade de nada me serve e por Deus não me coube. Só o amor pode unificar na espera, mas esse existe no tempo e no corpo que o experimenta, por isso acaba sendo uma saída apenas circunstancial e localizada - enquanto se ama.
Belacqua

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Queridíssimo Belacqua, define como ninguém como a besta do tempo sacode alguns de nós.
A intolerância à insuavidade dos seus movimentos repete-se no nosso corpo, ciclicamente, sem fim previsto.
Mas a nossa fantasia é que é melhor assim, do que nada sentir.

12:29 AM  
Anonymous Anonymous said...

"A pobre da minha avó entrava, rogava ardentemente ao meu avô que não provasse o conhaque; ele zangava-se, bebia apesar de tudo o seu gole, e aminha avó tornava a partir, triste,desanimada, mas sorridente, pois era tão humilde de coração e tão doce que a sua ternura pelos outros e a pouca importância que dava aos seus sofrimentos conciliavam-se, no seu olhar, num sorriso no qual, ao contrário do que se vê nos rostos de muitos humanos, não havia ironia senão para si mesma e, para todos nós, como que um beijo dos seus olhos, que não podiam ver aqueles que amava sem os acariciar apaixonadamente com o olhar."

O que quero ser quando crescer...

2:44 PM  
Blogger Princess Aurora said...

O amor é 'romantizado' todos os dias pelos outros, e nós infelizes desgraçados deixamo-nos ir como que rodopiados por uma bobina numa sala escura sem qualquer espectador...o amor é mais do que isso, é doloroso e por isso o partilhamos; o prazer preferimos partilhar por um momento sem nunca o chegar a fazer realmente.
Talvez a bobina esteja gasta e seja preciso mudá-la para uma outra sala mais ampla e mais preenchida.

11:22 PM  

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