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Melancolia

espaço de discussão e de reflexão sobre a melancolia, tanto como sentimento como enquanto atitude diante da contemporaneidade e da sua cultura.

Wednesday, December 22, 2004

Para a Maria (de "a melancolia e arte")

O queixume de Cocteau é irrelevante para a questão: primeiro, porque ele não sabe, em verdade, se o mal-estar de Fontenelle era de última hora; segundo, porque assim expõe o lado algo choramingas do seu lamento (no sentido em que o hipocondríaco acha sempre as doenças dos outros menos graves que as suas).
O modo como a Kristeva põe a questão é demasiado esquemático. O movimento não é entre a auto-complacência e a mania, ou, se quiser, não é entre a atonia e a euforia. As saídas para fora da negra verdade que estrutura (e desestrutura) o melancólico são sempre ilusórias, como ele rapidamente reconhece no decorrer dos dias. É no exercício da energia que o atravessa que o melancólico encontra o estreito caminho que lhe é oferecido. Ou em alternativa, essa energia é a sua possibilidade de alegria. O seu exercício (o da energia) não é resultado de uma qualquer inspiração nem de uma graça suficiente e concedida sem justificação. Trata-se de uma necessidade que tem que ser satisfeita quotidianamente. Exige trabalho e tentativas sucessivas de figurar em cada momento o que o Hamlet chama ‘repor o tempo nos gonzos’. A arte nunca é fonte de depressão, é sim lugar de brincadeira e de gozo, sério como o das crianças nos seus jogos. Porém não existe obrigação...é difícil a um cavaquinho dar a gama de um violino. Mas a Maria, nesta metáfora improvável, é o violino...

Belacqua

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