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Melancolia

espaço de discussão e de reflexão sobre a melancolia, tanto como sentimento como enquanto atitude diante da contemporaneidade e da sua cultura.

Sunday, October 29, 2006

Dante e Virgílio encontram os negligentes


Divina Comédia (Canto 4. 97-135).

Resposta a Dante

Sentei-me naquela pedra a olhar o horizonte eterno no ocaso e, como sempre, fui resvalando para uma doce modorra que no nada a passagem da ferida sanguínea do tempo abre. Senti-vos aproximar, a ti e ao teu mestre, e perguntei-me do direito que têm para perturbar o meu repouso inquieto. Há quantos séculos o restolho das vossas palavras circula neste inferno que outros dizem azul, quando visto de longe. Ilusões, engole-as quem pode, eu, como o meu homónimo que tu bem conheceste, digo-te que, antes de me entusiasmar com a perspectiva de um lugar mais rarefeito e leve, devo permanecer uma eternidade nesta cova funda e negra, donde a sua única abertura para o firmamento deixa passar a penumbra da luz que ao acaso a irisa momentaneamente.
Belacqua

Monday, March 20, 2006


Prometeu (Franco Longo)

O Abutre

entre o céu e a terra da minha vigília
de borco inúmeros os sentidos se apagam

na cova lamacenta da boca outros se levantam
deambulando pelas dunas da minha memória

enquanto um restolho de palavras ciranda ao vento
nas encostas quentes e côncavas do meu cérebro

Belacqua, 19 de Março de 2006

Friday, January 20, 2006


Duas mulheres na praia - Edvard Munch (1898)

Monday, October 24, 2005

O berço do humor

O lugar onde nasce o humor é sempre negro: a claridade do riso na dobra assustadora de um reposteiro sinistro.
Belacqua, 23 de Outubro de 2005.

Sunday, October 23, 2005

A fusão das cores frias


Melancolia, Edvard Munch 1896.

O rugir na voz

Senti-lhe o tumulto na voz como o ruído de idades incompletas a abaterem-se na areia de uma história desejada. Se um fundo de ironia dissolvesse todas as expectativas, esse furacão, por detrás da doçura entoada das palavras, seria a insistência do corpo, e da sua inumanidade, na cólera terrível da sua satisfação: sonho e violência de mãos dadas, dançando a crueldade do tempo até que a morte os separe.
Belacqua

Sunday, June 05, 2005

...de olhos fechados


Chirico - Mistério e melancolia de uma estrada (1914)

A intocável ferida

E se o objecto da representação fosse o modo mesmo como ela se constitui? Se o seu motivo fosse o carácter da sua motivação?O seu lado escondido, por assim dizer, surgiria plena e irisadamente sob a luz negra do terror primitivo do homem. Então, o modo de ver o mundo aparecer-nos-ia explicitamente e a sua relação com as leis da cidade seria óbvia. A verdade, o bem e a beleza seriam, de um só gesto, destino e origem de todas as acções e pensamentos. Mas não sendo assim, apenas na sombra da ferida intuímos as coisas ou, de um outro modo, na modulação da voz julgamos perceber o que escondemos, no tunning do corpo com a cultura, no sabat nocturno entre o desejo e a sua representação ouvimos por vezes o respirar do vazio entumescido da falta.
Belacqua

Sunday, May 01, 2005

Liebe C

A vida é um sopro no meio do furacão.

Belacqua


Tempestade no interior