tag: Melancolia: a si que não se nomeia (da melancolia leninista)

Melancolia

espaço de discussão e de reflexão sobre a melancolia, tanto como sentimento como enquanto atitude diante da contemporaneidade e da sua cultura.

Friday, December 10, 2004

a si que não se nomeia (da melancolia leninista)

A melancolia não é tristeza ou dito de outro modo: muito poucos tristes são melancólicos, todos os melancólicos alguma vez são tristes. Deixarei contudo para uma próxima oportunidade a diferença, discursivamente sustentada, entre tristeza e melancolia. Para já, volto a insistir, a tristeza exige frialdade e pouca amplitude na manifestação da energia, enquanto a melancolia é um aparelho extremamente sensível a qualquer variação "térmica" na energia e no estado febril que caracterizam o melancólico.

Belacqua

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Não entenda o meu comentário como um ataque, porque não era. Pelo contrário, apreciei o esforço de "transformar a sombra em luz", como disse Lol V. Stein, afastando-se do tom quase derrotista do texto "A tristeza".
A melancolia pode ser (e tem sido) compreendida e definida de várias maneiras, uma a que chamarei "positiva", que a aproxima de estados maníacos, na energia e na febre, e outra, a que chamarei "negativa", que a aproxima da tristeza, na apatia e na desesperança. Ao falar da pouca melancolia do seu texto estava a entendê-la neste último sentido.
Pessoalmente, concordo consigo; o melancólico caminha num ponto de equilíbrio muito precário entre dois polos opostos, extremamente sensível devido à sua aguda (auto-)consciência, tentando permanentemente operar em si a transformação alquímica que converterá todo o seu chumbo num luminoso ouro.

2:47 PM  
Anonymous Anonymous said...

Não estará a falar do famoso "spleen" de Baudelaire? A melancolia poética com o mau cheiro do tédio, da solidão, do total desconexo com o exterior... Sem dúvida que é enérgica no furor febril de se sublimar, numa tentativa tanto calma e ponderada como desesperada para se afastar dela própria, mais do que para se transformar em algo luminoso. Por mais que essa transformação exista no resultado poético, e por mais que o melancólico se afaste por segundos da melancolia no acto da escrita que o liga ao presente, não consigo acreditar que a tristeza não habite no antes e no pós escrita, onde os melancólicos "alguma vez são tristes", entediados pela própria melancolia da sua tristeza. Se a melancolia leva algum triste ou um "não-triste" a escrever, parece-me difícil que não seja senão para tentar separar a tristeza da melancolia, onde inseparavelmente uma desapareçe por segundos e a outra se tenta sublimar num rasgo poético de auto-consciência. Há tristes não melancólicos, mas haverá melancólicos não tristes? É fácil estar/ser triste sem sorrir, mas é mais díficil tentar sorrir sem se ser triste.

Joana.C.

2:44 PM  
Anonymous Anonymous said...

Não estava a pensar no "spleen" (mas em Freud), embora ele me pareça claramente uma forma de melancolia (melancolia poética, como diz, cristalização literária de um sentimento existencial), como de resto a própria palavra indica. Particulariza-se, no entanto, por um certo auto-comprazimento sobranceiro e entediado.
Concordo com o que diz acerca de afastamento de si/transformação, do ponto de vista da escrita (o acto e o resultado), mas parece-me que o esforço profundo do melancólico na vida é sempre o de uma transformação (eu diria que impossível)e não a simples administração de paliativos. As notas de Baudelaire sobre a sua higiene física e moral, por exemplo, parecem-me indicadoras desse esforço.

R.O.C.

9:48 PM  

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