Resposta a Dante
Sentei-me naquela pedra a olhar o horizonte eterno no ocaso e, como sempre, fui resvalando para uma doce modorra que no nada a passagem da ferida sanguínea do tempo abre. Senti-vos aproximar, a ti e ao teu mestre, e perguntei-me do direito que têm para perturbar o meu repouso inquieto. Há quantos séculos o restolho das vossas palavras circula neste inferno que outros dizem azul, quando visto de longe. Ilusões, engole-as quem pode, eu, como o meu homónimo que tu bem conheceste, digo-te que, antes de me entusiasmar com a perspectiva de um lugar mais rarefeito e leve, devo permanecer uma eternidade nesta cova funda e negra, donde a sua única abertura para o firmamento deixa passar a penumbra da luz que ao acaso a irisa momentaneamente.
Belacqua
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